O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se interna neste domingo (27) no
Hospital Israelita Albert Einstein (SP) para iniciar os preparativos da
cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal a que se submeterá na
manhã desta segunda (28).
Segundo o cirurgião Antônio Luiz Macedo,
que o acompanha, o procedimento será feito sob anestesia geral e deve
levar cerca de três horas. Ele diz que o presidente permanecerá
internado no hospital por pelo menos dez dias -o vice Hamilton Mourão
assumirá a Presidência durante a cirurgia e nas 48 horas após o
procedimento.
Além
de Macedo, outros oito profissionais vão participar do procedimento:
dois cirurgiões auxiliares, uma instrumentadora, dois anestesistas, uma
enfermeira e dois técnicos de enfermagem.
Bolsonaro estará
liberado para trabalhos burocráticos depois de duas semanas da cirurgia.
"Mas sem carregar peso, reuniões, ficar atrás de computador. A agenda
completa, geralmente, só após três semanas a um mês, no máximo", diz o
gastrocirurgião Wagner Marcondes, que trabalha há mais de uma década ao
lado de Macedo e que também atuará na operação.
A cirurgia
consiste em abrir o abdome e religar as duas pontas do intestino grosso
que hoje estão separadas para que o trânsito intestinal volte ao
normal. A sutura será feita com grampeador cirúrgico e pontos manuais,
segundo Marcondes.
Com isso, Bolsonaro deixará de usar a bolsa
coletora de fezes, adotada desde setembro, quando foi esfaqueado durante
campanha em Juiz de Fora (MG) e teve os intestinos grosso e delgado
perfurados.
Para
isolar as áreas lesionadas da passagem de fezes, o intestino foi
separado. Uma ponta ficou exteriorizada até a pele para saída das fezes
pela bolsa coletora. E a outra ponta ficou fechada dentro.
O
procedimento envolverá um corte de 30 cm a 40 cm, exatamente no mesmo
lugar da cicatriz resultante das duas cirurgias anteriores. O orifício
onde hoje está a bolsa de colostomia também será fechado. O presidente
ficará, então, com duas cicatrizes no abdome.
"Os riscos
envolvidos são muito menores do que quando eu o operei em 12 de
setembro, com uma peritonite grave, com grande contaminação. Era muito
mais grave. Agora os riscos são menores, mas sempre existe risco em
qualquer tipo de cirurgia", disse Macedo.
Segundo Wagner
Marcondes, é preciso levar em conta que Bolsonaro, apesar de todo o
ocorrido, é bem proativo, disposto e forte fisicamente. "Isso deve
resultar numa recuperação mais precoce."
A reportagem apurou que
na noite deste domingo, o presidente iniciará o jejum e receberá
laxantes para a limpeza intestinal, além de antibióticos para reduzir a
quantidade de bactérias que normalmente habitam o intestino grosso.
Como
a limpeza intestinal tende a desidratá-lo, em razão da perda de
minerais como sódio, potássio e magnésio, a recomendação é que ele
receba soro na veia.
Bolsonaro também deve fazer exames
pré-cirúrgicos, de sangue e de imagem, para que sejam avaliadas as
condições gerais do organismo e, em especial, a do intestino grosso.
Segundo
três gastrocirurgiões ouvidos pela reportagem, só quando o abdome
estiver aberto é que será possível verificar claramente o grau de
aderências na região.
Por
causa dos ferimentos e dos procedimentos anteriores, é possível que
haja alças intestinais grudadas entre si ou na parede abdominal.
O
primeiro passo, então, será desgrudar esses tecidos. "Quanto mais
aderências, mais a cirurgia pode demorar. Se a situação estiver
favorável, pode levar três horas. Senão, de seis a 12 horas", explica
Diego Adão Fanti Silva, cirurgião do aparelho digestivo da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo).
Depois da cirurgia, o presidente receberá mais antibióticos para evitar o risco de infecções.
Medicação
anticoagulante e meias elástica também estão indicadas para evitar o
risco de trombose e de sangramento, segundo Carlos Walter Sobrado,
professor de coloprotoctologia da Faculdade de Medicina da USP. As
meias, aliás, já devem ser colocadas durante a cirurgia, conectadas a
compressor pneumático.
A dieta do presidente após a cirurgia deve
consistir inicialmente de água, sucos, chás e gelatina. Se houver boa
aceitação, poderão ser introduzidos purês e sopa. Os primeiros roncos na
barriga e gases sinalizarão que o intestino ensaia o funcionamento.
Com quatro a cinco dias, espera-se que o trânsito intestinal esteja restabelecido e que o presidente comece a evacuar.
O
maior risco, porém, pode ocorrer nas semanas seguintes à cirurgia. Pelo
fato de o intestino grosso ter pouca vascularização, não são
infrequentes problemas de cicatrização.
O mais temível é a
fístula, ou seja, uma abertura no local suturado. É o popular "o ponto
abriu". "A gente costuma brincar que nenhum cirurgião dorme tranquilo
nos primeiros 15 dias após uma cirurgia desse tipo", diz Fanti Silva.
Os
riscos variam de 5% (em pacientes com boas condições de saúde, como as
de Bolsonaro) a 20% (diabéticos e desnutridos, por exemplo).
Segundo
Sobrado, o risco maior de fístula ocorre na primeira semana após a
cirurgia, quando o paciente começa a evacuar. Mas também pode acontecer
um pouco mais tardiamente, a depender das condições do paciente. Um
idoso, diabético ou fumante tendem a ter pouca vascularização nos
tecidos, o que favorece uma má cicatrização.
"Já tive paciente que
fez fístula com 21 dias após a cirurgia. Isso não é culpa do cirurgião
ou do material utilizado. É um risco intrínseco a uma cirurgia de
intestino grosso", afirma Fanti Silva.
Se houver rompimento da
sutura e vazamento de fezes na cavidade abdominal, é preciso abrir
novamente o paciente. "Aí a gente perde tudo o que foi foi feito. É
preciso refazer a colostomia", explica Sobrado.
Nos próximos seis
meses após a cirurgia, também há riscos de surgimento de hérnia
incisional na parede abdominal. Segundo Wagner Marcondes, o risco de
hérnia é consequência do tecido fragilizado em razão de três operações
seguidas no mesmo lugar.
Por isso é altamente recomendável que o paciente não faça esforço físico no primeiro mês após o procedimento. Com informações da Folhapress.
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