segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

HANSENÍASE: É PRECISO FALAR, por Carlos Lula


Um comercial de televisão - se a memória não me prega uma peça - da década de 1990 mostrava uma pessoa cozinhando, quando alguém a alertava sobre o braço que estava sobre a chama do fogão e ela sequer o sentia. Lembro-me do estranhamento que a imagem me causava, embora já tivesse ideia do que era a doença: “Como assim ela não sente o fogo queimando a pele?”.

Já à frente da Secretaria de Estado da Saúde, passei a ter contato mais direto com a realidade de que se tratava a campanha sobre Hanseníase, realizada pelo Governo e Ministério da Saúde. Mesmo muitos anos depois, ainda enfrentamos o fantasma da doença, que coloca o Brasil no ranking desconfortável de segundo lugar em número de casos, atrás apenas da Índia.

A hanseníase, doença provocada pela bactéria Mycobacterium leprae, tem cura e seu tratamento é gratuito, realizado pelo SUS. Por que então ainda registramos tantos casos anos após anos?

A doença, cujos registros de casos são bem antigos e estão inclusive na Bíblia, é cercada por desinformação e preconceito. As pessoas demoram a descobrir que têm a doença, pois atrasam a procura por auxílio médico assim que descobrem os primeiros sintomas. Além disso, o medo do estigma afasta o paciente do tratamento.

Por muito tempo, a política adotada para tratar do problema baseava-se na internação compulsória dos pacientes em grandes hospitais ou comunidades, conhecidas como “leprosários”. As imagens e histórias dos pacientes ainda nos impressionam. Mas esta é uma história superada. Hoje, o tratamento é feito por via oral, com uma associação de até três medicamentos. Ainda no início do tratamento, a doença deixa de ser transmitida.

A hanseníase pode provocar graves incapacidades físicas se o diagnóstico demorar ou se o tratamento for inadequado. Os primeiros sinais da hanseníase são manchas claras, róseas ou avermelhadas no corpo, que ficam dormentes e sem sensibilidade ao calor, frio ou toque. Podem aparecer placas, caroços ou inchaços. Quando afeta os nervos, pode causar formigamento, sensação de choque, dormência e queimaduras nas mãos e pés por falta de sensibilidade, além de falta de força e problemas nos olhos.

Outro fator que contribui a posição brasileira no ranking de incidência da doença é a pobreza, uma vez que ambientes de grande aglomeração e com más condições de vida contribuem para a perpetuação da doença.

Da parte do poder público estadual, temos incentivado a procura pelos serviços de saúde; mobilizado os profissionais de saúde para a busca ativa de casos novos e realização de exame de pessoas próximas; divulgado a oferta de tratamento completo no SUS e promovido atividades de educação em saúde que favoreçam a redução do estigma e do preconceito que permeiam a doença.

Em 2018, tivemos 3.079 casos novos notificados, destes, 650 casos são de São Luís, o que faz com que o Maranhão desponte como um dos estados mais endêmicos do país. Este mês, nosso destaque será o Janeiro Roxo, dedicado ao combate da doença. Vamos falar muito sobre este assunto no primeiro mês do ano, mas precisamos agir nos 365 dias do ano para combater essa doença e seu estigma.

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