Ao tomar posse do cargo do segundo mandato, nesta terça-feira (1º), o
governador Flávio Dino fez um discurso na Assembleia Legislativa do
Maranhão. Veja a íntegra abaixo:
Nós celebramos sempre os momentos alegres com muita emoção. Mas,
sabemos todos, que a vida não é feita apenas de momentos alegres, a vida
também nos ensina com dores e lágrimas. E a vida nos ensina também com
sentimentos especiais que nós convencionamos chamar de saudade. Eminente
presidente Othelino Neto, quero lhe dizer que é uma imensa honra
receber pela segunda vez a honrosa missão de governar o nosso estado das
mãos de vossa excelência. Para mim é uma honra pelos laços de
companheirismo, de amizade, de fraternidade que nos unem há algumas
décadas, antecedendo mesmo a nossa própria existência. Porque sabem
todos que é uma amizade familiar, nutrida pelo meu pai, pelo avô do
Othelino e pelo pai do Othelino. Portanto, para mim é uma imensa alegria
receber esse honroso encargo das mãos de sua excelência.
Contudo, essa alegria não faz com que eu possa omitir uma
homenagem. Há exatamente um ano, no dia de hoje, dia 1º de janeiro de
2018, nos deixou o eminente presidente Humberto Coutinho, presidente
dessa Assembleia Legislativa. Hoje faz um ano da sua morte. Se não fosse
esse evento, que faz parte da existência humana, sabemos todos, e que
evoca dores e saudades, estaria ele a presidir esta solenidade. É claro,
como disse, que me regozijo pelo fato de está sentado ao lado de vossa
excelência, presidente Othelino, mas peço a sua permissão para dizer que
a minha memória sente aqui a saudade desse grande amigo, desse grande
líder político do Maranhão, e sem o qual eu não estaria exercendo o
governo, o eminente presidente da Assembleia Legislativa, deputado
Humberto Coutinho.
Diz Camões, quando trata nos Lusíadas, das grandes navegações, de
que não são apenas os livros, não são apenas as teorias, não são apenas
os planejamentos abstratos que nos movem. Me sinto hoje mais preparado
do que há quatro anos, dignas autoridades militares que aqui se
encontram, para exercer esta função de governador do Estado, evocando
exatamente Camões. Além de tudo que estudei e estudo, além de me dedicar
intensamente a tudo aquilo que faço, com muita seriedade e muito
compromisso, trago hoje, diferente de quatro anos atrás, mais cabelos
brancos, que são os sinais visíveis daquilo que Camões chamou do saber
da experiência feito. O saber acumulado nesses quatro de exercício na
honrosa função de governador do Estado é colocado nessa data à
disposição dos sete milhões de maranhenses. É esse saber, o saber
derivado do enfrentamento de tantas dificuldades, de tantos obstáculos,
celebração de tantas vitórias, celebração de tantas conquistas, que faz
com que eu possa, humildemente, mas com muita ênfase, dizer a todas as
senhoras e senhores que me sinto motivado, para ao lado do
vice-governador Brandão e da nossa equipe, fazer um segundo governo
ainda melhor do que o primeiro governo que tivemos a oportunidade de
liderar.
Claro que isso não será possível se apenas prevalecerem as
experiências. As experiências nos ensinam, mas não podem nos prender.
Nós precisamos sempre inovar, criar, imaginar, navegar. “Navegar é
preciso, viver não é preciso”, diziam os argonautas gregos há alguns
milênios atrás. Portanto, senhoras e senhores, ofereço um patrimônio de
experiências acumuladas, mas não o desejo de permanecer no porto seguro
de quem sabe tudo, de quem já viu tudo, e de que, portanto, encara a
continuidade da função de governo como uma mera rotina. Não. Sinto o
mesmo frio na barriga, o mesmo tremor na alma por ter essa
responsabilidade. E sinto a motivação de fazer com que a experiência não
se transforme em mesmice, não se transforme em mais do mesmo. E esse é o
convite que faço a todas as senhores e senhores, cidadãos, cidadãs
maranhenses. Que se lancem novamente a esta aventura, de fazermos um
governo mais imaginativo, criativo… Transformador.
É claro que vivemos hoje uma díade, uma dualidade que não
vivíamos quatro anos atrás, qual seja, continuidade e mudança. Há quatro
anos atrás nos elegemos e governamos sob o signo da mudança. É claro
que agora temos essa ambigüidade, essa concomitância, de fazer com que
um patrimônio de experiências vitoriosas possa ser protegido, protegido
contra todas as intempéries derivadas mesmo de contextos hostis, ao
mesmo tempo em que seguimos mudando.
Temos três compromissos fundamentais, que compõem um acervo sobre
o qual se erguem todas as medidas e ações que nos estamos a editar
nesta data e o faremos também nos próximos dias. Em primeiro lugar o
compromisso com o equilíbrio fiscal, equilíbrio de receitas e despesas,
duro equilíbrio no contexto presente, mas que não pode atuar, é verdade,
como um dogma de fé, mas deve atuar como premissa imprescindível para
outras conquistas sejam celebradas. Quando as contas públicas se
desorganizam, não há horizonte. Quando as contas públicas entram no
terreno da imprevisibilidade, não há condições de nós sonharmos e
concretizarmos nossos sonhos. É claro que o equilíbrio fiscal não é um
fim em si mesmo, o equilíbrio fiscal é um instrumento para que nós
possamos dar cumprimento a nosso ideário.
O segundo item que compõe esse acervo de premissas se atém ao
cumprimento de um dever, mas um dever que deve ser enunciado, pois, como
disse o poeta cubano José Martí, grande estadista daquela nação, todo
aquele que repete uma verdade está a dizer uma novidade. A segunda
premissa é exatamente fazer um governo probo e honesto. É uma verdade, é
uma novidade, que merece ser enunciada sempre, como garantir a todos os
cidadãos maranhenses, que as minhas mãos e a minha ficha continuam 100%
limpas e assim estarão no dia 31 de dezembro de 2022, quando eu
entregar o governo do Estado para o meu sucessor, sucessora.
E o terceiro compromisso, também extremamente atual, embora tão
antigo. O compromisso com os direitos humanos, o compromisso com os
direitos fundamentais, o compromisso com os direitos de todos e todas.
Vivemos uma era estranha, uma era esquisita. Hoje um dos países mais
poderosos do mundo anunciou a sua retirada do sistema da Unesco, não
participa mais da Unesco, porque considera que essa instituição tão
tradicional no conserto das Nações Unidas é um estorvo, é um embaraço. E
nesses tempos estranhos há quem considere que os direitos humanos são
uma maldição. Eu sou daqueles que acreditam que sem direitos humanos sem
direitos fundamentais não há desenvolvimento, porque se nós não
garantirmos que a riqueza socialmente produzida seja aplicada em
proveito da justiça social, podemos ter até crescimento econômico, mas
jamais uma sociedade desenvolvida e digna.
Gostaria de dizer às senhoras e aos senhores que nós teremos
também a continuidade como marca no que se refere à nossa equipe. É
claro que mudanças serão procedidas, mas eu e o vice-governador Carlos
Brandão vamos continuar de um modo geral a coordenar o mesmo conjunto de
auxiliares, a mesma equipe que nos trouxe até aqui. As mudanças que
houver serão no sentido de aprimoramento e de qualificação no trabalho
já feito pela nossa equipe. E nesse sentido quero enaltecer muito
especialmente a importância do trabalho do vice-governador Carlos
Brandão, que comigo coordena uma série de projetos de extrema
importância e quero destacar que se encontra nessa Casa, já enviado pelo
nosso governo, Projeto de Lei criando o Complexo Industrial Portuário
do Itaqui, importante empreendimento que visa, presidente Baldez,
presidente Raimundo, garantir condições de que o vetor logístico,
essencial para o nosso desenvolvimento, encontre suporte no
fortalecimento da Empresa Maranhense de Administração Portuária com a
entrega de terrenos e de patrimônio imobiliário, para que nós saibamos
que este complexo portuário, liderado pelo nosso porto público, porto do
povo do Maranhão, o Porto do Itaqui, que já atende e responde por 14
mil empregos, estará no nosso segundo governo ainda mais fortalecido. E o
vice-governador Carlos Brandão tem tido um papel elevado em garantir
que os investidores privados nesta área, assim como em demais áreas do
nosso governo, encontrem um ambiente institucional saudável para
empreender. De modo que quero, senhor vice-governador Carlos Brandão, de
público, agradecer a sua colaboração e a agradecer a Deus o fato de que
continuaremos juntos nesse próximo quadriênio que hoje se inaugura.
Continuidade e mudanças, essa é a ambigüidade, a concomitância
que fiz referência. Mudanças porque temos um novo contexto, na nossa
pátria, e, portanto, precisamos fortalecer programas e projetos e também
lançar novas ideias. Neste acervo, nesse conjunto que assinei hoje,
temos vários programas que foram anunciados, institucionalizados nesse
momento. Desse conjunto, gostaria de destacar duas ideias que compõem
uma visão sobre o desenvolvimento, uma visão de desenvolvimento
inclusivo e para todos. Esta Assembleia, este egrégio parlamento
estadual do povo do Maranhão aprovou em dezembro próximo passado,
Projeto de Lei de autoria do Executivo instituindo o Cheque Cesta
Básica. É um programa inovador. É o primeiro estado da federação que
renuncia totalmente ao ICMS incidente sobre a cesta básica e transforma
todo o ICMS arrecadado em produtos da cesta básica em programas sociais,
de modo a garantir que mesmo esse tributo dito indireto, possa ter
justiça fiscal, possa ter progressividade. Todos nós pagamos do mesmo
modo os tributos embutidos no preço do arroz e do feijão. A novidade que
esse programa oferece é que os mais pobres terão esse imposto de volta
exatamente para garantir justiça fiscal – em quem tem mais paga mais e
quem tem menos recebe mais benefícios, que nada mais é do que a
concretização do princípio da capacidade contributiva, inscrito no
artigo 145 da Carta Magna.
O decreto que hoje editei garante que no máximo no mês de maio
essa devolução comece com as gestantes. Gestantes mais pobres do nosso
estado, que receberão benefícios mensais ao longo da gestação e dos três
primeiros de vida do seu bebê, para garantir o cumprimento de uma
condicionalidade ao longo da gestação, qual seja: o comparecimento nos
exames de pré-natal. A mãe comparece, recebe. Se ela não comparecer, ela
não recebe. E para garantir uma segunda condicionalidade, quando do
nascimento da sua criança, do seu bebê, que é ter de cumprir o
calendário de vacinação obrigatório. Com isso, além de realizarmos a
finalidade atinente ao principio da capacidade contributiva, nós estamos
garantindo o combate efetivo à mortalidade infantil.
Nós tivemos uma redução no nosso governo da mortalidade infantil e
temos convicção de que cuidando das grávidas e das gestantes,
acompanhando-as, exigindo as condicionalidades, monitorando-as, nós
vamos pôr fim a um dos flagelos que envergonham o povo maranhense, o
povo brasileiro, que é a elevada mortalidade infantil, ainda existente
no nosso Estado.
O segundo ato, que destaco desse conjunto aqui subscrito, diz
respeito ao Pacto Estadual Pela Aprendizagem, fortalecendo o regime de
colaboração. Quando, há quatro anos atrás estive nessa mesma tribuna, na
presença de muitos das senhoras e dos senhores, o IDEB do nosso estado,
que se refere à rede estadual, era da ordem de 2.8, 22º IDEB do nosso
país. Conseguimos, mediante investimentos, mediante priorização por
parte do governador do Estado, da agenda atinente à educação, elevar
esse índice em mais de 20% em um período governamental. Ocorre senhoras e
senhores, que não haverá sustentabilidade no crescimento do IDEB no
Maranhão se não houver idêntico esforço por parte das redes municipais.
Há aqui muitos eminentes prefeitos. Todos nós sabemos a dificuldade que
é, hoje para o Maranhão e para os municípios, garantir o funcionamento
das creches e da educação infantil. O propósito do Pacto Estadual pela
Aprendizagem é garantir que a Secretaria de Estado da Educação e as
secretarias municipais de Educação possam trabalhar de mãos dadas para
que se eleve o IDEB não apenas da rede estadual, mas também os IDEBs das
redes municipais, porque nós só conseguiremos ter uma educação que
garanta dignidade e igualdade ao nosso povo no momento que nós
trabalharmos juntos em direção a esse objetivo. Nós, neste decreto,
editamos nesse Pacto uma série de providências e faço menção aqui a
duas. A primeira, um grande programa de apoio ao transporte escolar dos
municípios, senhor secretário de Estado da Educação já está autorizado a
adquirir mais 200 ônibus escolares para doação aos municípios, para que
com isso nós possamos melhorar as condições de transporte nessas
cidades.
E amanhã, eu estarei dirigindo um ofício ao excelentíssimo
ministro de Estado da Educação, hoje empossado, oferecendo parceria para
conclusão das creches federais paralisadas no território maranhense.
Quem conhece o Maranhão sabe que, a cada região, nós temos diversas
creches federais com obras paralisadas; e uma obra paralisada é uma obra
mais cara ainda do que uma obra não iniciada, uma obra não executada.
Nós sabemos o emaranhado jurídico que cerca essas creches, são dezenas. E
eu, com muita humildade, mas com muita disposição para mostrar o quão
democrático é o nosso governo, e com a ajuda da bancada federal
maranhense, estou oferecendo ao ministro de Estado da Educação dinheiro
para que nós possamos juntar recursos municipais, recursos federais e
recursos do governo do Maranhão para que nós possamos entregar as
creches para as crianças, porque as crianças não são municipais,
estaduais, federais; elas são crianças brasileiras e por isso merecem
que nós nos juntemos para o atingimento dessa meta.
Espero que o novo Governo Federal compreenda que as naturais
adversidades, controvérsias políticas, não devem impedir a união de
esforços para a consecução de intentos comuns como esse que estou hoje a
anunciar.
Finalizo com uma breve reflexão sobre a democracia. Vivemos em
ambiente de dissenso. Os conflitos não destroem a democracia, os
conflitos revigoram a democracia. Porém, desde que todos nós
compreendamos que os dissensos, os conflitos, as controvérsias não devem
impedir a existência de espaços de diálogos, espaços de concertação e
de pactuação de atos, ações de solidariedade para que nós possamos
atender ao interesse público.
Somente os fascistas acreditam na guerra, no ódio e nas armas. Os
democratas acreditam no diálogo, acreditam que mediante o entendimento
daqueles que pensam diferente, nós possamos, nós podemos e devemos
atender a objetivos mais elevados.
Não sou daqueles que praticam o ódio. Me espanto e me horrorizo
com o ódio que jorra dos poros das redes sociais no nosso país e creio
que não devemos normalizar a barbárie, porque se nós a normalizamos, nós
estamos a perenizando, nós estamos eternizando a busca da destruição do
pensamento diferente no Brasil.
Falo por isso, ao final dessa oração e sempre chamando o diálogo
democrático, porque nele creio. Esta é a minha formação desde os 15 anos
de idade, quando trilhando sempre a margem esquerda do rio da vida,
passei a me dedicar à militância política, já se vão 36 anos. Estão aqui
os eminentes chefes de Poderes e de órgãos autônomos e sabem como nós
temos buscado isto, do mesmo modo em relação aos municípios, aqui
representados pelo prefeito Tema. Do mesmo modo tem sido em relação ao
Governo Federal e, se depender de mim, assim será. Ou seja, nós
continuaremos a dialogar entre diferentes para atender aos interesses do
povo do Maranhão.
Posso assumir esse compromisso lastreado na prática. Porque houve
um tempo, presidente Othelino, que Projetos de Lei oriundos de
parlamentares da oposição, da época, não eram sequer votados neste
Parlamento, vossa excelência sabe disso, deputado Rubens Júnior sabe
disso, deputado Marcelo Tavares sabe disso. Houve um tempo que qualquer
Projeto de Lei oriundo da oposição ao governo era vetado, sumariamente,
por inconstitucionalidade ou por contrariar o interesse público. Nesses
quatro anos eu posso me orgulhar que, de um lado, nunca quartei o livre
exercício do poder legislativo nesta Casa, nunca pedi nada imoral, nada
autoritário ou ditatorial. A pauta foi feita no âmbito deste parlamento,
e dezenas, vejam, dezenas de Projetos de Lei, iniciativas parlamentares
de deputados da oposição ao nosso governo foram votadas e aprovadas. E
mais: sancionados por mim, porque eu não olho a autoria, eu olho se a
ideia é positiva ou não para o desenvolvimento do Maranhão. Esta é uma
das provas empíricas, práticas, que posso oferecer a este parlamento.
Que esse clima, presidente Othelino, assim continue. É claro que com os
embates acirrados são próprios da vida parlamentar, mas sem nunca
sacrificar a possibilidade de convergência de talentos, de competências
para que nós possamos desenvolver o nosso estado.
O meu maior adversário são os problemas do Maranhão. Eles
existem, às dezenas. Eles existem, às centenas. As minhas armas são as
mesmas: coragem, disposição, seriedade, responsabilidade, compromisso.
As minhas armas continuam as mesmas: acreditar naquilo que eu faço. As
minhas armas continuam as mesmas: amar as pessoas que me são mais caras,
a minha família que está aqui, minha mãe, minha esposa e todos que aqui
se encontram, assim como também a família do Brandão. As minhas armas
continuam sendo acreditar numa sociedade de iguais, numa sociedade de
pessoas que não estão acima uma das outras, mas que de fato, procuram,
cada um ao seu modo, ao seu tempo, fazer o melhor para que nós possamos
viver numa sociedade mais justa para todos.
Lembro Isaías, o profeta bíblico, que nos diz que só há paz
quando há justiça. Todos nós queremos viver em paz. Todos nós, portanto,
temos que ser profetas e construtores da justiça, porque sem uma
sociedade justa, sem que nós tenhamos uma sociedade que enfrente as
desigualdades, as perversidades e as iniquidades, não haverá paz
verdadeira.
Pode entregar arma para todos os cidadãos brasileiros, não haverá
segurança, não haverá concórdia, não haverá uma sociedade pacífica para
todos nós. Eu acredito naquilo que diz o profeta Isaías e aqui estou
mais uma vez perante vossas senhorias, vossas excelências e perante o
povo do Maranhão com o chamado à paz e à justiça. Viva o Maranhão, viva o
Brasil!
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