domingo, 17 de novembro de 2019

Desprendimento, por Carlos Lula


Geralmente, neste período de final de ano há um movimento coletivo para ações com finalidades sociais. Campanhas de arrecadação de roupa, comida, pintura voluntária de casas, visitas a instituições filantrópicas para presentear seus moradores. São ações pontuais, válidas, instigadas pelo espírito solidário do Natal. 

Longe dessas atividades sazonais, observo com admiração pessoas que simplesmente se desprendem de si mesmas em prol de outras. Movidas por compaixão fazem muito mais, corações nobres e amáveis - absoluto oposto da ganância e egoísmo imperativos ao nosso redor - abrem mão do que possuem para dar a quem nada tem.

Na última semana, eu tive a honra de conhecer Jailson, maqueiro da Maternidade Benedito Leitue, que abriu mão de sua casa própria para garantir a 150 crianças de sua comunidade, localizada no Turiúba, em São José de Ribamar, uma unidade de ensino. A única casa de Jailson, o único bem de valor econômico, entregue às crianças para que pudessem estudar.

O Instituto Educacional Turiúba, fundado há pouco mais de quatro anos, abriu as portas do conhecimento e da esperança para crianças muito carentes. A unidade também é fonte de alimento para estes pequeninos cujas famílias sofrem escassez de recursos, além de servir de creche para que avós, mães, tias  possam trabalhar.

A unidade atende desde o berçário até o fundamental I, mas sem a casa de Jailson, provavelmente, muitas delas não estariam na escola. Os professores, todos voluntários, sabem bem o sacrifício de chegar à comunidade. Alguns andam 8km para garantir a aula, a ajuda de custo quase nunca cobre despesas com passagens. As crianças certamente não conseguiriam se manter na escola se tivessem que enfrentar o deslocamento para outra localidade.

Jailson percebeu isso, toda equipe pedagógica encarou as dificuldades da comunidade e por esta razão o Instituto existe. Essa unidade é um grande símbolo de amor nesta comunidade. Nela, constrói-se, diariamente, uma história diferente e melhor a partir do ensino dos pequenos moradores do Turiúba.

Alguns podem dizer já não há esperança, já não há mais amor, já não há mais desprendimento. Como o Jailson, tudo o que precisamos é ser a esperança, ser o amor, ser a compaixão para a vida de alguém ou de uma comunidade inteira. 

Quanto você é capaz de doar por alguém? Abriria mão de tudo? Talvez de sua única casa ou quem sabe suas poucas moedas no bolso? Seu tempo? Doar o que sobra é desapego, contudo, apenas corações nobres olham o outro com compaixão e vivem na tentativa de suprir suas necessidades. Jailson não pensou duas vezes em doar tudo que tinha. E você, já pensou em quem vai ajudar hoje?

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