terça-feira, 19 de junho de 2018

Verossimilhança, por Carlos Lula



“A desilusão com as estruturas institucionais levou a um ponto em que as pessoas já não acreditam nos fatos. Se você não confia em ninguém, por que tem de confiar nos fatos? Se ninguém faz nada por mim, por que tenho de acreditar em alguém?”, a frase pertence ao teórico e professor norte-americano Noam Chomsky.

Reflexão preocupante se considerarmos nossa realidade brasileira. Um dos maiores desafios da atual política é descobrir uma maneira de comunicar a verdade aos incrédulos. Como fazê-lo? Outro embaraço está no enfrentamento a uma elite suja, que historicamente rege a política dos grandes partidos, que constrói uma narrativa em desfavor dos fatos, abusa da repetição do discurso para desacreditar aquele que anuncia outro posicionamento. Em tempos de desesperança, a tarefa é quase inglória.

Durante anos, um velho ditado nos alertou: contra fatos não há argumentos. Verdade? Há muitos e muitos anos, espalharam um alerta em São Luís: a barragem do Bacanga teria rompido. Tudo seria inundado. Lembro que algumas lojas fecharam, não houve aula nas escolas. Preparamo-nos para o fim da civilização ludovicense.

Parabéns a quem inventou o boato. Causou alguns transtornos, principalmente na época em que não havia uma comunicação mais rápida que o celular e o whatsapp. A mentira foi desfeita em alguns minutos intermináveis.

No campo político não é muito diferente. Valendo-se do esfacelamento do exercício da política em nosso país, surgem mecanismos cada vez mais refinados de manutenção do poder através da distorção de narrativas. No Maranhão, esse quadro é ainda mais grave, pois os que se julgam detentores naturais do poder abusam da manipulação de fatos e da fabricação de inverdades. Os jornais são terríveis, a blogosfera, mais suja que esgoto. Com isso quebram o pacto de verossimilhança com o cidadão, instituindo uma realidade inventada que serve a interesses escusos.

Não havendo como esconder os fatos, os avanços, o desenvolvimento, a expansão, as conquistas efetivas, utilizam o argumento do medo, do caos, do abandono e de crimes. O “desconhecido” na política é sempre objeto de incertezas e os burocratas saudosistas, os que sentem saudade dos privilégios de outrora tentam injetar na população maranhense um medo que eles próprios já sentem: de que a época do favor finalmente tenha acabado.
O ‘mercado das ideias’ imprime dúvida, desconfiança e hostilidade. Não precisa ser racional, não precisa nem ser real, só precisa ser convincente. De acordo com Chomsky, o objetivo é influenciar, ou mesmo moldar, a percepção da sociedade sobre a realidade política e limitar as possibilidades de mudanças políticas e sociais.

Segundo o norte-americano, a elite política deseja “impor uma visão que diz a você que o Estado é seu inimigo e que você tem de fazer o que puder sozinho”. Esta visão estimula o individualismo e dificulta a cooperação mútua entre vários setores da sociedade, fragilizando laços de solidariedade e confiança de que outra realidade é possível.

Durante muito tempo, essa narrativa de medo e criação de mentiras foi o motor da política estadual. Quando muito, havia a troca de algum favor – com garantias vazias de um benefício imediato e/ou futuro. A extrema decadência de alguns de nossos municípios não é por acaso.

Desarraigados dessa visão, outros gestores já associam o campo do discurso às ações executadas. Estes são a esperança do seu povo, são os aproveitadores de oportunidades e usufruem bem da missão. Alinham-se ao Estado, desprovidos de vaidades ou interesses particulares, e atraem mais investimentos para sua comunidade.

Assim temos feito, estimulando a política como exercício cotidiano e entendendo que a eleição é apenas a prestação de contas, junto com a população, do que a gestão realizou.

Para aqueles que estão comprometidos com a utilização do Estado para benefício próprio, a eleição é o ápice do projeto de poder, mas para aqueles que têm como objetivo a transformação efetiva da realidade do povo, a eleição é um processo de renovação da esperança, ou seja, ela simboliza a consonância de vontades, mas, principalmente, a manutenção desse pacto de confiança entre Estado e sociedade. ​​

Quem inventou a expressão fake news, portanto, precisava ter passado um período pelas bandas do Maranhão. Aqui, a mentira e o medo, mais que em outros locais, sempre foram a força motriz da política. O que temos a oferecer? Contra toda a desilusão, oferecemos trabalho sério. Contra inverdades, oferecemos verossimilhança.

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