O presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), disse em entrevista ao site BuzzFeed, publicada nesta
sexta-feira, 26, ter “convicção” de que o presidente Jair Bolsonaro está
por trás dos arroubos digitais de seu filho Carlos Bolsonaro
(PSC), classificado por Maia como “doido” e “radical”. Nos últimos
dias, Carlos tem usado seu perfil no Twitter para fazer sucessivos
ataques ao vice-presidente, Hamilton Mourão, acusando-o de conspirar
para tomar o lugar do pai.
“Ninguém fica preocupado com Carlos,
todo mundo tem convicção de que o Bolsonaro é que comanda isso. E eu não
acredito, e ninguém acredita mais, que é o Carlos que comanda esse
jogo”, disse Maia, que atua como um dos principais articuladores da
reforma da Previdência na Câmara.
O deputado lembrou o polêmico
tuíte com cenas pornográficas publicado na conta do próprio Jair
Bolsonaro durante o Carnaval e o atribuiu a Carlos, que tem livre acesso
às contas do presidente nas redes sociais. “Alguém coloca aquilo do
golden shower sem o pai ver? O filho pode ser doido à vontade, mas num
negócio daquela loucura só com autorização do dono da conta”, disse
Rodrigo Maia.
Sobre o impacto dos ataques de Carlos Bolsonaro a
Mourão no governo, Maia disse que “não atrapalha muito, não” e que “para
quem está aqui perto, todo mundo sabe que é uma briga idiota”. Ele
ponderou, no entanto, que entre investidores pode haver reflexos
negativos. “Quem vai investir no país e vê o filho do presidente batendo
no vice questiona isso. Acho que pode gerar insegurança em alguns
atores que estão mais distantes”, afirmou.
Questionado sobre se
imaginava que um vereador do Rio de Janeiro, como Carlos, poderia criar
crises de amplitude nacional, Rodrigo Maia se limitou a responder que “o
filho do presidente é um radical”.
O presidente da Câmara ainda
comentou o fato de Jair Bolsonaro ter estimulado a candidatura de Carlos
à Câmara Municipal do Rio em 2000, quando o vereador tinha apenas 17
anos, em uma eleição na qual teve como candidata a própria mãe, Rogéria
Nantes.
“O Bolsonaro colocou o filho com 17 anos para disputar
contra a própria mãe desse filho. Ele derrotou a mãe para vereador. Isso
deve ser normal na cabeça de um ser humano? Derrotar uma mãe com 17
anos? Isso deve ter gerado muito problema na cabeça do Carlos. A
informação que eu tenho, apenas de ouvir falar, é que eles ficaram sete
anos sem se falar, ele e o pai”, afirmou Maia.
Ele ainda
questionou o fato de o presidente atribuir sua vitória eleitoral em 2018
à atuação de Carlos Bolsonaro nas redes sociais. Bolsonaro diz com
frequência que o filho deveria ser ministro e foi o responsável por ter
virado presidente. “O que influenciou muito a eleição foi a facada que
quase o matou. Se Bolsonaro achar que foi a internet que elegeu ele…”,
avaliou.
Rodrigo Maia também comentou a atuação do deputado
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que tem influência no Ministério das
Relações Exteriores comandado pelo chanceler Ernesto Araújo. Maia
classifica a política externa do governo Bolsonaro como “loucura” e
afirma que Eduardo “não era nada, era um deputado do baixíssimo clero”
da Câmara e agora está deslumbrado com o poder.
“Ele não era nada,
era um deputado do baixíssimo clero, o pai vira presidente, ele passa a
ser chamado pela equipe do Trump, pela equipe de não sei o quê… Um
pouquinho de vaidade é um direito, não é? Não vamos exagerar também,
achar que ele não pode ter um momento de deslumbramento. Quem é que
nunca teve? Quando eu ganhei minha primeira eleição para presidente da
Câmara eu também tive. Todo mundo tem, mas com o tempo você vai vendo
que isso ai tudo é passageiro”, disse. “Não foram eles que fizeram o
ministro [Ernesto Araújo]? Eles que comandam o ministro, a agenda deles é
a mesma, essa loucura aí…”, completou.
A respeito da influência
de Olavo de Carvalho na chamada “ala ideológica” do governo, Rodrigo
Maia disse entender que vê “influência demais” do guru na agenda do
presidente, mas que “ele [Olavo] vai perder relevância”.
Questionado
se a ala militar do governo ganharia com a diminuição da influência do
escritor radicado nos EUA, Maia respondeu que “os militares ganham e o
governo ganha na relação com a política, porque sai esse ambiente de
radicalismo e de grosseria desse cara [Olavo] e do entorno dele”.
Reforma da Previdência
Na
entrevista, Rodrigo Maia avaliou que a articulação política do governo
pela reforma da Previdência “melhorou muito” depois que, nas palavras de
Maia, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, antes “meio acanhado”,
“compreendeu que se ele não fizer articulação ele vai cair”. “Ele
está começando a mudar. Estou dizendo. O Onyx está conversando mais,
estive com o Onyx três dias seguidos. Ele dizendo que quer construir
junto, construir o processo eleitoral de 2020 junto com todo mundo. E
isso vai acalmando todo mundo”, declarou.
O presidente da
Câmara classificou o líder do governo na Casa, o novato Major Vitor Hugo
(PSL-GO), como “muito fraquinho” e que sua atuação “dá dó”. “[Vitor
Hugo] Faz a antipolítica achando que o Bolsonaro vai ficar feliz porque
ele está fazendo a antipolítica. E ao mesmo tempo ele quer ser
articulador político, o que cria uma confusão na cabeça das pessoas”,
avaliou.
Maia disse ainda que “não dá para dizer quantos votos” a
reforma tem hoje no plenário da Câmara, mas que “está longe” dos 308
necessários. Questionado sobre se a proposta, em tramitação em uma
comissão especial que terá quarenta sessões para analisá-la, será
aprovada ainda no primeiro semestre, o deputado respondeu que “parece
que está apertado”. “Mas são só duas semanas de recesso, tanto faz
metade de julho ou início de agosto… Isso não é o mais importante, o
mais importante é aprovar. Um mês, um mês e meio a mais ou a menos não
vai tirar pedaço de ninguém”, afirmou.
FONTE: Veja
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