domingo, 28 de junho de 2020

Ainda não acabou, por Carlos Lula


Escrevo para não nos esquecermos de onde partimos. Escrevo porque estamos no Maranhão há 15 dias em queda na taxa de contaminação do novo coronavírus. Após quatro meses, enfim, atingimos esta fase que muitos países custaram alcançar. Seria este o momento demarcado pelo meio do caminhada ou por estarmos, de fato, nos aproximando do fim?

Definitivamente não há como saber. A observação do que foi a segunda onda do vírus em outros países exige ponderação e cuidados redobrados. Hoje, com uma taxa de transmissão em 0,89 e reabertura gradual dos serviços, o SARS-CoV-2 parece ter um novo comportamento. O contágio passou a ser mais lento nessa fase. 

Esta é a minha preocupação. A Itália, por exemplo, parece ter esquecido toda tragédia vivida pelo novo coronavírus. Quando aparentou ser seguro, a sociedade literalmente abandonou os cuidados e as medidas preventivas. 

Uma pesquisa recente, realizada pela empresa SWG, apontou que apenas 18% dos italianos estavam muito preocupados com o novo coronavírus. Anteriormente, este percentual havia chegado a 57%.

No sul do país, local com menor número de casos e, consequentemente, pouco atingido pelos momentos de desespero em razão da COVID-19, os italianos já promovem festas, mal usam máscaras e uma semana atrás uma fotografia registrou mais de cinco mil pessoas reunidas numa praça de Nápoles comemorando a conquista do título da Copa da Itália.

Segundo cientistas, em lugares onde o impacto do SARS-CoV-2 foi baixo, o contágio do vírus pode eclodir agora. Baixar a guarda pode corroborar com uma segunda onda ainda pior que a primeira.

No Maranhão, um pouco de acalento com a baixa taxa de transmissão não é motivo para nos unirmos em festas e descuidarmos nas medidas de prevenção, que já fazem parte do nosso cotidiano. Os maranhenses têm assistido do sofá da sala, pelo celular ou pela televisão, um dos maiores patrimônios culturais que temos. 

O São João desse ano foi completamente atípico, mas eu não diria sem brilho porque não deixamos de nos emocionar. Eu me emocionei porque percebi o quanto esse momento é especial para cada pessoa que vive ou que visita o Maranhão no mês de junho. Contudo, precisamos nos lembrar que o vírus continua em circulação e não há garantia científica, até agora, de imunidade naqueles que já testaram positivo. 

Definitivamente não estamos no final da pandemia. As crianças e os idosos não nos deixam esquecer. Eles permanecem guardados dentro de casa, lembrando do perigo invisível que ameaça. Algumas famílias superaram momentos de horror e aflição, outras ainda lidam com as perdas. 

Distanciamento, uso de máscara e manter hábitos de higiene. Este tem sido o protocolo de vida mais bem sucedido contra o novo coronavírus.  Ainda sabemos pouco sobre o vírus, mas o conhecimento adquirido já aponta que essas medidas são eficientes. Podemos hoje optar por prevenção ou por riscos de uma segunda onda no Maranhão. O nosso comportamento em sociedade definirá o rumo da trajetória nessa pandemia. O perigo continua real e bem perto de nós. Sejamos prudentes.

Todos os prognósticos do momento são acompanhados por esse “até agora”, “até aqui”, e esta cautela é o que nos move, na Secretaria de Estado da Saúde, a conduzir o trabalho de forma honesta. Confesso que os números são animadores, que a vontade de comemorar é grande, mas não nos deixemos seduzir por impressões passageiras.

“Chi aspettar puote, viene a ciò che vuole”, isto é, “quem pode esperar, acabará por chegar”. Paciência. Há de vir o tempo de celebrar a vitória contra a pandemia.

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