segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Inflação pode subir ainda mais com intervenção de Bolsonaro na Petrobras



 decisão de Jair Bolsonaro (sem partido) de trocar o comando da Petrobras para conter a alta dos combustíveis pode ter o efeito oposto daquele desejado pelo presidente. Ao invés de resultar em queda da inflação, a medida pode levar a uma aceleração dos preços, devido à desvalorização do real frente ao dólar, como resultado do aumento da incerteza.

A taxa de câmbio influencia o preço de todas as commodities, incluindo os alimentos. Pesa ainda sobre os custos da indústria, que acabam sendo repassados ao consumidor ou prejudicando a saúde financeira das empresas.

A piora na percepção de risco no país também tende a travar os investimentos das companhias, levando a uma redução das expectativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. E, com a piora do quadro inflacionário, o Banco Central pode ser levado a antecipar a alta da taxa básica de juros (Selic), o que afetaria também as perspectivas para o desempenho da atividade econômica em 2022.

Nesta segunda-feira (22/2), mesmo antes de todos esse efeitos terem sido contabilizados pelos analistas, a expectativa do mercado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2021 subiu de 3,62%, na semana passada, para 3,82%. Com isso, o índice oficial de inflação fecharia o ano acima do centro da meta, que é de 3,75% para este ano.

Segundo o boletim Focus do Banco Central, o mercado também elevou sua projeção para a Selic ao fim de 2021, de 3,75% para 4%. Atualmente, a taxa básica de juros está em 2% ao ano, menor patamar da história.

Os economistas pioraram ainda a estimativa para o crescimento do PIB neste ano, de 3,43% para 3,29%. Em 2020, eles avaliam que a economia deve ter encolhido 4,22% em decorrência da pandemia. O resultado oficial para o PIB de 2020 deve ser divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no dia 3 de março.

Mais pobres podem sofrer mais

Na sexta-feira (19/2), Bolsonaro comunicou através das redes sociais a decisão de substituir o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, hoje presidente da usina de Itaipu.

A mudança, que ainda precisa ser aprovada pelo conselho de administração da estatal, gera uma enorme incerteza quanto ao futuro da política de preços da empresa.

Atualmente, a Petrobras adota uma política de paridade de preços dos combustíveis com o mercado internacional. Com isso, gasolina, diesel e gás de cozinha variam acompanhando as flutuações do preço do petróleo e a taxa de câmbio.

"Há um enorme ponto de interrogação sobre o futuro da política de preços dos combustíveis. Se Bolsonaro partir para uma linha populista, o que tem uma probabilidade muito grande de acontecer, pode haver aumento da incerteza, fazendo com que o real se desvalorize mais fortemente em relação ao dólar, e aí o contágio na inflação é bem mais generalizado", afirma André Braz, coordenador de índices de preço no Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

"Se o pobre vai economizar no gás de botijão e na passagem de ônibus urbano, que é influenciada pelo preço do diesel, por outro lado, ele é penalizado pelo encarecimento de outros itens componentes da cesta básica", explica o economista.

Na manhã desta segunda-feira, o dólar chegou a superar o patamar de R$ 5,50, após fechar em R$ 5,39 na sexta-feira anterior. Já as ações da Petrobras chegaram a cair quase 20% na bolsa de valores paulistana.

O especialista da FGV explica que a alta do dólar afeta, por exemplo, o preço das carnes, que já acumula alta de 23% em 12 meses até janeiro.

"A carne bovina, por exemplo, é muito demandada pela China. Quanto mais desvalorizada nossa moeda está, mais carne a gente vende para a Ásia. Com isso, o produto sai cada vez mais do nosso país, o que é ruim para a inflação, pois desabastece o mercado brasileiro", diz Braz. Com menos carne disponível, o preço dela tende a subir.

Ele explica que esse mesmo efeito deve levar a uma alta de preços da soja e do milho, que são usados como ração na engorda de animais como suínos e aves.

"O custo de criação desses animais aumenta. Então, além do avanço da exportação, pela desvalorização do real, também podemos ter um aumento de custos nesses segmentos, o que pode aumentar o preço dessas carnes e também do ovo", diz o analista.

Outro exemplo de produto cujo preço pode subir é o minério de ferro, usado na construção civil e também na fabricação de bens duráveis como automóveis, fogões, geladeiras e máquinas de lavar, feitos com chapas de aço. "O espalhamento da inflação, entre itens da cesta básica e bens duráveis é enorme", conclui o economista.


FONTE: BBC News

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